quarta-feira, 15 de abril de 2015

5º Últimos "recuerdos" da Rua Três de Fevereiro

08/10/2013
 ''AI!!! QUE SAUDADE ME DÁ!!!"

São fortes minhas lembranças, me lembro bem dos costumes e hábitos domésticos e exceto pelo fato de que o povo se acostumara com a eletricidade da Cemig, não fosse por causa disso, podia-se dizer que para algumas famílias tradicionais - aquelas que possuíam sítio na roça - suas casas da cidade seriam quase auto-suficientes. Pouca coisa precisaria comprar no comércio local.
Por exemplo: "seo" Melico da dna.Ana, de quem tive a honra de ser vizinho de 1976 a 1978  lá na R. 3 de Fevereiro, possuía em casa uma ROCA doméstica. Ali dna. Ana "cardava" e fiava por horas e horas o algodão que colhia no seu próprio quintal. Dali sairia tecido pra uso na cozinha e enxoval pros quartos. Eu e minha irmã Andréa ficávamos observando seu paciente trabalho.

No quintal dessa casa havia também uma cisterna pro abastecimento de água e um delicioso pé de amoras das quais nunca mais provei melhores em outro lugar. E porque a carne de porco, a banha, o arroz, café, feijão e rapadura vinham do sítio que possuiam nos Penas, e cozinhava-se no fogão à lenha, basicamente "seo" Melico comprava na cidade apenas o sal, algum tecido fino ou sabonetes, algum calçado - que podia ser reformado depois várias vezes pelo "seo" Luis Sapateiro, e usavam o benefício de iluminação elétrica da Cemig.  Apenas isso! Pois até o sabão e botões de roupa eram feitos em casa, dispensando a necessidade de comprar muitas coisas no comércio local.

Quantas vezes observei esse processo!! Até mesmo na casa da D. Diva do Chiquinho Barbosa, mãe do Rander e da Goreth, colegas de sala de aula no primário e também  nossos vizinhos, se fazia o SABÃO.  Era o famoso "sabão de tacho", composto de banha, cinzas, vísceras de animais e soda cáustica. Apurava-se por um dia inteiro no fogão à lenha, depois formava-se bolotas do tamanho dos frutos da LOBEIRA. Não era cheiroso e tinha cor muito escura. Mas junto com a cinza e o auxílio de areia, é o melhor que havia pra limpar fuligem preta nas panelas. Areia... daí se vem o costume de dizer: "vou arear panelas"...

Na escola, era comum a criançada aparecer com manchas vermelhas nos braços ou nas pernas, então a gente perguntava:
__"O quê foi isso?"
Donde se escutava a invariável resposta:
__"Mamãe fez sabão lá em casa, estava fervendo e pulou do tacho e eu me queimei".
Nessa casa da D. Diva também havia um tear, que não fazia uso da eletricidade, e de onde vi sair muitas mantas, cortinas e cobertores de tecido rústico porém lindos e coloridos! Haviam também os forninhos de barro onde se assavam as "quitandas".
Assim eram muitas casas em Guapé. Assim se ocupavam a vida das nossas queridas matronas daquele tempo.

E com o fruto da lobeira - que citei acima- nós fazíamos brinquedos. E com eixo de gravetos ligando duas ou quatro bolotas desse espinheiro, fazíamos carrinhos.
A lenha escasseou e nas casas, o forno e o fogão de lenha aos poucos perderam a importância, assim como as chaleiras, canecas e bules esmaltados e o ferro de brasas pra passar roupas.
A energia elétrica e o botijão de gás roubou tudo isso de nós , mas as minhas lembranças eu não deixo ninguém nem o tempo roubar.

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