08/10/2013
''AI!!! QUE SAUDADE ME DÁ!!!"
São fortes minhas lembranças, me lembro bem dos costumes e
hábitos domésticos e exceto pelo fato de que o povo se acostumara com a
eletricidade da Cemig, não fosse por causa disso, podia-se dizer que para
algumas famílias tradicionais - aquelas que possuíam sítio na roça - suas casas
da cidade seriam quase auto-suficientes. Pouca coisa precisaria comprar no
comércio local.
Por exemplo: "seo" Melico da dna.Ana, de quem tive a
honra de ser vizinho de 1976 a 1978 lá
na R. 3 de Fevereiro, possuía em casa uma ROCA doméstica. Ali dna. Ana
"cardava" e fiava por horas e horas o algodão que colhia no seu
próprio quintal. Dali sairia tecido pra uso na cozinha e enxoval pros quartos.
Eu e minha irmã Andréa ficávamos observando seu paciente trabalho.
No quintal dessa casa havia também uma cisterna pro
abastecimento de água e um delicioso pé de amoras das quais nunca mais provei
melhores em outro lugar. E porque a carne de porco, a banha, o arroz, café,
feijão e rapadura vinham do sítio que possuiam nos Penas, e cozinhava-se no
fogão à lenha, basicamente "seo" Melico comprava na cidade apenas o
sal, algum tecido fino ou sabonetes, algum calçado - que podia ser reformado
depois várias vezes pelo "seo" Luis Sapateiro, e usavam o benefício
de iluminação elétrica da Cemig. Apenas
isso! Pois até o sabão e botões de roupa eram feitos em casa, dispensando a
necessidade de comprar muitas coisas no comércio local.
Quantas vezes observei esse processo!! Até mesmo na casa da D.
Diva do Chiquinho Barbosa, mãe do Rander e da Goreth, colegas de sala de aula
no primário e também nossos vizinhos, se
fazia o SABÃO. Era o famoso "sabão
de tacho", composto de banha, cinzas, vísceras de animais e soda cáustica.
Apurava-se por um dia inteiro no fogão à lenha, depois formava-se bolotas do tamanho
dos frutos da LOBEIRA. Não era cheiroso e tinha cor muito escura. Mas junto com
a cinza e o auxílio de areia, é o melhor que havia pra limpar fuligem preta nas
panelas. Areia... daí se vem o costume de dizer: "vou arear
panelas"...
Na escola, era comum a criançada aparecer com manchas vermelhas
nos braços ou nas pernas, então a gente perguntava:
__"O quê foi isso?"
Donde se escutava a invariável resposta:
__"Mamãe fez sabão lá em casa, estava fervendo e pulou do
tacho e eu me queimei".
Nessa casa da D. Diva também havia um tear, que não fazia uso da
eletricidade, e de onde vi sair muitas mantas, cortinas e cobertores de tecido
rústico porém lindos e coloridos! Haviam também os forninhos de barro onde se
assavam as "quitandas".
Assim eram muitas casas em Guapé. Assim se ocupavam a vida das
nossas queridas matronas daquele tempo.
E com o fruto da lobeira - que citei acima- nós fazíamos
brinquedos. E com eixo de gravetos ligando duas ou quatro bolotas desse
espinheiro, fazíamos carrinhos.
A lenha escasseou e nas casas, o forno e o fogão de lenha aos
poucos perderam a importância, assim como as chaleiras, canecas e bules
esmaltados e o ferro de brasas pra passar roupas.
A
energia elétrica e o botijão de gás roubou tudo isso de nós , mas as minhas
lembranças eu não deixo ninguém nem o tempo roubar.
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