quarta-feira, 15 de abril de 2015

1º Memórias... E quem não se lembra disso?

21/08/2013
 "AI!!! QUE SAUDADE ME DÁ !!!"

Lembrar de Guapé é lembrar de cenas e personagens pitorescas, e sentir muita saudade daquele tempo. É um desafio muito grande expressar todas lembranças de uma época em  umas poucas linhas... Então não falarei tanto dos pontos turísticos, ou das praças, dos clubes ou das escolas, senão não me sobrariam linhas para escrever. Essa tarefa vou deixar para os historiadores. Todavia, me lembrarei de algumas cenas e de alguns personagens que de alguma forma assinaram a história de Guapé com seu jeito de ser, gravando sua presença na lembrança e no coração de todos nós... E ainda que tenham ido embora para o além, não podem jamais morrer em nossas lembranças.
__“Pela Santa e Amada Igreja, querem se casar...”
Quem não se lembra de tão conhecida frase dita pelo Padre João, anunciando o matrimônio desde o alto da torre da Igreja aos quatro ventos? Ou da advertência que ele fazia publicamente ao “ZÉ DA HORA” que já passava quase da hora o repicar dos sinos? A pregação dominical e os anúncios de nascimento e morte, de gente querendo vender ou comprar alguma coisa, parentes procurando fulano ou sicrano e que cobriam toda a cidade através dos auto-falantes?

Quem não se lembra dos carros de boi, com seus condutores tangendo pacientemente através da avenida carregados com fardos de arroz e milho, no lamento monótono do cocão a ressoar pelas ruas de paralelepípedos, blocos sextavados ou terra batida? E alguém por acaso já se esqueceu da rixa entre o grupo do Congo e o grupo do Moçambique? O povo torcia pra esse ou aquele grupo, como se fossem dois times de futebol... O DITINHO que assumiu sua orientação sexual diante de tantos preconceitos  antes mesmo que alguma lei punisse qualquer tipo de discriminação, era um ponto-chave e presença obrigatória nessas congadas! Percorria sítios e fazendas com sua bandeira de Folia de Reis, angariando fundos para festas de nosso folclore.

E quem não se lembra do alvorecer com o burburinho dos caminhões-leiteiros e bóias-frias na agitada, porém divertida labuta de ganhar o pão de cada dia nas panhas de café?
Quem não se lembra das personagens folclóricas de nossa cidade, tais como a ISABELLA DOIDA, o JOÃO MARQUES MUDINHO e também o JOAQUIM – o anãozinho mudo, moradores da Vila Vicentina, que antigamente chamávamos de Conferência; e também do CHICO-CEGO – o MINHA GATA – o bom velhinho, que perambulando pelas ruas com sua bengala, cantava pra gente nas portas do comércio local? E sempre imitava um gato! Era só a molecada correr em volta dele e gritar: “Minha gata! Minha gata!” e o bom velhinho em alto e bom som começava a miar, alegrando a criançada.
Existia também a PINTADA que morava na Vila dos Sapos (ou na “Rua do Buracão”). Na avenida Brasil a gente sempre topava com o PATURÍ, o URIAS, O ZÉ ROQUE e o TIÃO CIRINO.
A SÁ ANA e a filha, apelidada de GATA DA BOLÉIA por muitos anos tiveram de lidar com a peste da criançada que voltavam encapetados do Grupo Escolar pela Rua Boa Esperança, a gritar pelo nome delas!
Tinha o Adolfo, velho magrinho que percorria as ruas calado... Sempre descalço, gostava de amarrar fitinhas coloridas de tecido nos dedos dos pés!!
O “Hein-hein”, acho que seu nome era Domingos, descia lá do Campo da Aviação todos os dias até a mercearia do Fernandinho, com embornal a tira-colo... diziam que ficou mudo após se engasgar com um caroço de manga...

Todos eles povoaram a mente infantil e coloriram nossas ruas, alguns eram citados em tons de ameaça quando mamãe flagrava a gente nalguma travessura. Então ela dizia: “Se você não ficar bonzinho, olha que fulano vem te pegar, leva embora e te dá uma coça!” outros ao serem lembrados, simplesmente traziam um sorriso inocente na cara da criançada.

Quem não se lembra dessas coisas? Do entardecer melancólico visto no final da Rua 3 de Fevereiro, com o Sol indo embora logo depois da serra, no outro lado da represa...  Da “Fábrica” da Cacisa dando seu último apito, pra depois, em seguida despejar o soro do leite na represa, onde tem o pranchão e a seva de peixes do Hotel Interlagos!!
Nessas horas o “PÃO-DE-SAL” fechava o portão do Cemitério enquanto a Igreja entoava a Ave Maria.
 Aos domingos, era a criançada descendo pra Figueira, lugar bom de aprender nadar e mergulhar. Tinha de pedir permissão ao “ZÉ BUCK”, proprietário daquelas terras... Mas ninguém se lembrava desse protocolo!

Enquanto isso, as charretes e os jipes traziam a mulherada dos sítios pra missa dominical. Cachorro nenhum entrava na Igreja, embora o SAUL jurava de pés juntos que uma vez o Padre João chutou um, e por causa disso tinha perdido os pés.
O Pé-de-Pato, nosso eterno Delegado, nunca pediu ao CIDINHO, tradicional carcereiro da cidade (e pai do rapaz), que o prendesse por causa dessas estórias, apesar do Padre não concordar com a imitação que SAUL fazia dele, nas pregações das missas...

Quem que não jogou bola no Campo Sete, lá da Cidade Nova? Quem não caçou passarinho no Bosque? O Bosque ficou muito mais triste desde o dia que encontraram o seu LÚ – zelador e responsável pela Quadra, mortinho da silva aos pés de um pinheiro... Foi enfarte fulminante!

A estradinha do “ZÉ DO DOSA” levava a gente até a Balsa... Atravessar a represa de balsa até a Araúna era trajeto obrigatório pra quem queria passar um fim de semana interessante. E por falar em trajeto obrigatório, quem ainda não foi pro Paredão?
Fica a meio-caminho entre Guapé e Jacutinga ,sim, Jacutinga, embora os jacutinenses nunca irão concordar com esse gentílico. - e nem com o nome de Jacutinga!! Vai saber!
Por falar em Jacutinga, as festas lá pra essas bandas movimentavam o clima da nossa cidade. Muita gente fazia o trajeto a pé, pagando promessas... ou tentando expiar os pecados... Mas pra alguém mais preguiçoso, o caminho até São Judas em outras datas festivas já era de bom tamanho!!
Eu poderia dizer muito mais do tempo em que vivi no Guapé, porém o espaço aqui é muito curto. Então dei prioridade a algumas lembranças pitorescas, que só Guapé pode ter, características que pra mim fez de Guapé a minha “Cidade Única”.

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