25/11/2013
AI!!! QUE SAUDADE ME DÁ!!!
Já contei que vivia mudando de casa? Só em Guapé
foram 13... Disse que falaria do Ginásio, mas impossível abordar o assunto sem
dar retoques finais nas lembranças do Ensino Primário...
Do 1º ao 3º Ano “de Grupo”, percorri a Rua Boa
Esperança em direção a Escola. O João da Sá Ana morava na esquina numa edícola
de quintal. Ali permanecia de cócoras, encostado na parede do lado de fora. Dia
todo ficava ali, não trabalhava nem saía dali pra nada desse mundo, mas me
contou que estudou no Antigo Ginásio em 1971 e 1972 e lá conheceu meus primos
Jonas, Josué e Janete...
Com inseparável rádio de pilha, todo dia me dava
notícias do Campeonato Brasileiro e do seu time de coração: Santos F.C. Morreu
em 1984 com dores na barriga, e ninguém soube o que foi. Nunca entendi de
futebol, mas gostava de conversar com João. Apesar da boa amizade, às vezes
tinha medo de passar por ali na hora de ir pra escola... Pois naquela rua
morava um velho senhor: quando a gente passava correndo, fazia "cara de
mau" e fingindo que pegava um canivete, ameaçava de cercar nosso caminho,
dizendo: __”Péraí seu moleque, que agora vou te capar”... era tudo brincadeira
dele, claro – era um senhor muito respeitável, e o povo dali eram todos boa
índole, mas “criança pequena” não sabe discernir entre brincadeiras e
realidade!! Por causa disso às vezes descia a Rua 3 de Fevereiro até chegar na
RUA ARAÚNA, me dirigindo ao Grupo por ali.
Bem de frente o campo vazio – que ficava abaixo da
Rodoviária Nova – nessa rua morou Vicente, dono de um Corcel marrom – só tinha
dois dessa cor na cidade: o dele e do Geraldo Vilela. Vicente foi casado com
Dnª Helena, que sofria do coração. Praticamente cega por causa do diabetes,
muitas vezes me pediu que lesse (ainda que tropeçando nas palavras) as bulas e
os horários dela tomar seus remédios. Num dia passando por lá, notei movimento
incomum na casa... era 1977 e eu cursava o 2º Ano... Dnª Helena tinha falecido
naquela manhã. No final de 78 voltei pra Cidade Nova. E do quintal de minha
casa – ainda estudando no Grupo, contemplava a bela construção do Ginásio.
A inauguração do “Ginásio Estadual de Guapé” – foi
esse o primeiro nome – se deu em 1979. Montaram um palanque no portão,
aproveitando o desnível do passeio. Juntou muita gente, inclusive Dr. Lauro que
anos depois emprestaria seu nome ao Ginásio, e uma figura política veio de
fora: Deputado de BH ou de Brasília, que fez um longo discurso...Pra assistir
tal evento, pulei o muro de casa e atravessei terrenos vazios que haviam por
lá. Esse caminho fiz todos os anos que estudei no Ginásio, pois morava na rua
de cima e era mais fácil fazer isso do que contornar toda esquina onde tem a
casa do Euclides Nascimento. Ansioso, queria ver logo o prédio onde passaria
longas horas de aprendizado no ano seguinte e esperei com impaciência o fim do
discurso. Já no recinto, colei o nariz nos vidros da janela do Laboratório,
admirando os fetos de bezerro, porco, serpentes e insetos expostos em vidros
com álcool. No mezanino, estava o famoso “microscópio” da aula de Biologia.
Assim, já me despedia daquela vida de aluno primário...
Chegando ao Ginásio em 1980, fiquei desnorteado.
5ª-C era a segunda sala à esquerda, no pavilhão mais baixo da Escola. Ali
tivemos contato com o novo mundo: Um “fuzuê” de professores entrando e saindo a
cada 45 minutos, cada um com disciplina nova. Alunos da 6ª, 7ª e 8ª séries nos
dando "bons exemplos", mostrando que a partir daquele dia –
teoricamente – a qualquer hora podíamos sair pra beber água, ir ao banheiro,
perambular nos corredores, subir na quadra ainda em construção e até arranjar
umas paqueradinhas detrás do Ginásio...
Nos primeiros dias me senti perdido, igual cachorrinho
que cai do caminhão de mudanças... E daquela hora em diante não era mais
proibido escrever de canetas e trocamos nosso caderno de brochura por outro
grandão, de espiral.
Mudaram as disciplinas: Entrou “História” com
professora Valdete que antes de ser “promovida a anjo”, era esposa do William
da Educação Física. Comunicação e Expressão virou “Língua Portuguesa”, com Dnª
Zélia. E Ciências era “Programa de Saúde” com Dnª Edna, que num momento de
descontração nos levou pra visitar o Laboratório... Foi só pra descontrair
mesmo, pois não lembro de ter voltado lá nenhuma outra vez.. Aprendi misturar
manga com leite, porque ela dizia: “No estômago não tem gavetas, portanto a
natureza permite a mistura de alimentos”. Geografia era com Dnª Lara e depois
foi com Dnª Graça, cuja voz nunca me esqueci, era em falsete. E Matemática??
ah!.... matemática!... Dnª Maria Augusta ensinou a gente no intragável livro
“TD” - Trabalho Dirigido.
Duas matérias tinham nome esquisito: EMC e OSPB –
favor não confundir com BHC nem SBP que eram inseticidas. Foram ótimas
disciplinas! Até hoje não sei porque deixaram de existir. Ensinavam moralidade
e organização política!! Tenho certeza que os políticos atuais de Brasília
COLARAM bastante na escola, porque seus procedimentos não condizem com aquilo
que se aprendia no Ginásio... A professora foi Dnª Leila. Aulas de Religião era
com Dnª Nilza - pessoinha muito calma, mas parecia não ter muita fé no que
ensinava. INGLÊS!! O livro "Beginning at the beginning", com os personagens
Stephen, Dayse, Daddy and Mother... Era Dnª
Cléri que ensinava, mas eu continuei até hoje "Começando no começo" –
como diz o título do livro, porque não entendi nada dessa língua...
Tinha a dupla: Ângela Gaia da Dnª Sabina e a
própria Dnª Sabina: A primeira ensinou Educação Artística e meu 1º trabalho
artístico foi "motivos natalinos", com a confecção de um Sino
Caseiro... O sino era de papelão e em vez de fazer um badalo, eu coloquei DOIS
pendurados... Não sei por quê todo mundo riu, mas a professora guardou discretamente
junto com outros trabalhos da classe... Aprendi alguma coisa sobre
O-LE-RI-CUL-TU-RA. Soletrado desse “jeitin”, como Dnª Sabina falava em toda sua
paciência. Olericultura parecia recreação pois tínhamos oportunidade de sair da
sala e cuidar da horta detrás da Escola. Formamos equipes e eu cuidava do
canteiro de Rabanetes, um tubérculo que só servia pra saladas. A horta
enriqueceu a sopa com legumes e verduras. Uma vez “furaram” a vigilância do
Hélio, invadiram a horta e roubaram todos pés de couve, repolho e o Hélio ...ficou
sem cenoura. Roubaram tudo.
Meu pesadelo foi nas aulas de Educação Física.
Raquítico, peso-pena, era sempre o lanterna. Pra correr em volta da quadra,
aguentava cinco ou seis voltas sem xingar o William. Depois começava doer os
rins e sentir câimbras... No futebol só servia de tabela: Atiravam a bola na
minha direção, que rebatia em qualquer lugar do corpo e pulava de volta pro
companheiro, confundindo o adversário. Certa vez, uma bola bem chutada me
carregou com ela 2 metros antes de me atirar ao chão... Por fim, para evitar
tais impropérios contra a minha pessoa, se o jogo acontecia num canto da
quadra, eu logo corria pro lado contrário...
No vôlei, me apelidaram de “Xandó”, só pra lembrar
o melhor jogador da época... o saque era uma piada... Quando William estava de
bom humor, corríamos 5 voltas na Quadra e depois era Vôlei, Futsal ou
exercícios leves. Caso contrário, subíamos pro Campo Sete – onde o filho chora
e a mãe não vê – e ali sem piedade nos fazia correr 20 ou 30 voltas. Apesar da
saudade que tenho do professor, até hoje tenho vontades de cuspir um CHICLETE
bem na frente do William, só pra vê-lo grudar o pé...
Da próxima vez falarei mais do Ginásio e todo seu
universo... Porque agora só de lembrar dessas coisas, fiquei cansado...
Até!
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