quarta-feira, 15 de abril de 2015

4º Ainda Rua Três de Fevereiro

27/09/2013
''AI!!! QUE SAUDADE ME DÁ!!!''

RECORDANDO UM POUCO MAIS OS TEMPOS DA RUA 3 DE FEVEREIRO

Guardo na lembrança a primeira procissão que vi na minha vida - Pois em São Paulo não tinha disso - De repente um burburinho logo de manhã... e abrindo as janelas vejo a população afoita, ocupando-se em cobrir as ruas com PALHA DE ARROZ E PÓ DE MADEIRA tingido em diversas cores, formando desenhos de cruz, flores e frases... era véspera de Corpus Christi !! Com muito capricho enfeitavam o caminho por onde passaria a procissão. E foi ali, naquele dia a primeira vez que vi o Padre João, que devidamente instalado numa espécie de charrete (é a imagem que guardo desse dia), seguia acompanhado pela multidão percorrendo as ruas ao som de cânticos e rezas. Pessoas compenetradas, carregando imagens e flores coloridas - algumas feitas de papel, numa arte que só Dna.Dindinha do "seo" Joaquim Monteiro e mais algumas senhoras religiosas sabiam fazer.

Dna.Dindinha morava na rua paralela à 3 de Fevereiro, uma rua apelidada de "Rua do Buracão". Nessa rua também moraram personagens conhecidos por toda população guapeense: Ali morou a Pintada, o Tião Cazéca, o Ditinho, o Lazo Sulica e o "seo" Zé - um velhinho que gostava muito de cachaça e de cantar "a modinha da Bica d'agua".  Nessa rua também havia a única oficina de BICICLETAS de todo o Guapé: A oficina do Expedito, filho de Dna.Dindinha.

Na cheia da represa, o Casarão abandonado recebia água até nas escadarias onde a molecada ia pescar mandi, cascudo e lambari. Nesses tempos a represa baixou de uma tal forma que foi possível revolver o túmulo de um padre e numa procissão tão grandiosa quanto a de Corpus Christi, percorreu as ruas da cidade em cima de uma camionete antes de descansar em seu último repouso, no cemitério local. Isso aconteceu entre os anos 1974 ou 1975, se não me falha a memória. Hoje, depois de ler o livro “Guapé” do Dr. Passos Maia, acredito que tal padre foi o Cônego Fraissat, pois nesse livro conta que tal sacerdote tinha sido enterrado na Igreja...
E algum tempo depois, a primeira tragédia que tive conhecimento: Um afogamento; num  movimento que trouxe até bombeiros de outra cidade pra resgatarem o corpo do Haroldo, um rapaz que havia descido à represa para nadar... foram dias de chuva e céu nublado, tão triste quanto o acontecimento.

A "Rua do Aterro" ainda estava em seu nível original do tempo da cidade antiga, sem aterro nenhum. Significava que boa parte do ano ela ficava encoberta por águas interrompendo o tráfego de quem subia por ali em direção ao Bar dos Ávilas, do Herinho ou do Cemitério. E nas margens dessa rua meio-submersa havia um pântano e depósito clandestino de lixo - toda sorte de lixos: desde cachorro morto até lixo doméstico.

Ao lado do Cemitério havia um terreno em declive, um cruzeiro. Tempos depois esse terreno foi aplainado e se transformou em campo de futebol. E foi desse terreno que as máquinas gigantes tiraram terra pra fazer o aterro e sanar definitivamente o problema da rua submersa. Gostávamos de percorrer por dentro dos tubos de cimento que foram instalados debaixo do aterro... coisas de criança! Mas o lixão e o pântano continuou ali por muitos anos ainda.

Pra fazer ligação interurbana, era uma "via-sacra": mamãe botava todos pra tomar banho, vestia a melhor roupinha e subíamos todo mundo "pro centro da cidade"... nosso destino era o Hotel Caiçara - nesse tempo nem existia ainda o restaurante que a Iolanda construiu em frente o hotel - mas no hotel havia uma cabine que funcionava como telefone comunitário. Chamávamos a Telefonista e passávamos o número de algum parente em São Paulo. Minutos depois recebíamos a chamada de volta. E era assim que se estabelecia comunicação! Pra economizar, às vezes escrevíamos cartas que levavam muito mais de 20 dias entre enviar e receber resposta! O Odair do Correio muito gente boa sempre guardava alguns selos usados pra minha coleção filatélica. Ainda ouço o matraquear da máquina de Código Morse que havia na Agência de Correios... e da admiração com que eu contemplava o Odair lendo rapidamente aquela fita interminável de papel picotado que trazia ou levava alguma notícia urgente via telégrafo, em minúsculas marcas codificadas...

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