CLAUDINHO DO ZÉ DAMAS
Ele era especial…
Um anjo de apenas 8 ou 9 anos encarnado num corpo adulto, de uns trinta e poucos anos.
Morávamos na mesma Rua. Fomos quase vizinhos.
O Claudinho eu conheci desde a minha infância e naquela época ele já era um "adulto-criança".
E sempre foi do mesmo jeito:
Sempre sorridente, com seu vozeirão de gente grande ele brincava igual as crianças, por causa de seu raciocínio que não se desenvolveu com a mesma rapidez do corpo.
Mas era um doce menino. Obediente aos pais, todos os dias ele descia a rua de casa e seguia em direção ao centro da pequena cidade mineira, onde eu morei, para buscar o leite.
Naquele tempo não existia “leite pasteurizado”, ninguém sabia o que era “leite de caixinha” ou “leite de saquinho”. Tudo era vendido IN NATURA: A farinha, o açúcar, o café, o arroz e o feijão. Tudo era pesado à frente do cliente, depois embrulhado em “papel de pão”.
O leite também era assim e o Claudinho levava sua vasilha de alumínio para trazê-lo. Voltava cantando músicas infantis e balançando perigosamente sua vasilha cheia de leite, com risco de derrubar tudo no chão!
Sonhava em ser Locutor de Rádio. Diante da impossibilidade, Claudinho passava horas e horas debaixo da sombra das árvores no seu quintal, ligando as árvores com um emaranhado de barbantes e latas e brincando sozinho de “telefone sem fio”.
Eu me mudei de Guapé há muitos anos (há 29 anos) e as notícias às vezes demoram um pouco pra chegar…
Porém, há pouco tempo eu soube que o Cláudio faleceu. Mas não faleceu agora! Já faz algum tempo que ele se foi.
Fiquei triste e despertou-me a curiosidade:
“O Cláudio, apesar das suas limitações, parecia um rapaz saudável… Do que teria falecido o Cláudio, rapaz tão novo?”
E hoje, a notícia triste se completou:
CLAUDINHO MORRERA DE TRISTEZA.
Muito apegado ao pai, Sr. José Damas – um caridoso e respeitado senhor – Claudinho começou a ficar triste desde que o pai falecera…
Tempos depois perdeu também Dna.Tiana, sua mãe.
Cláudio era o filho mais novo; e não sei dizer se era filho legítimo ou adotivo.
Só sei que, com a morte dos pais, Cláudio foi levado para a casa de uma de suas irmãs, que ficava na zona rural de Guapé. Mas infelizmente, não se adaptou ao novo ambiente.
Trouxeram-no outra vez à cidade, mas como na casa onde morou não havia ninguém que cuidasse do rapaz, foi então levado ao abrigo da Vila Vicentina (outrora chamada de “Conferência” pelos habitantes da cidade). E que ficava bem próximo à casa onde ele passou sua vida toda, com os pais.
Segundo o depoimento da sobrinha, Cláudio saía todos os dias da Vila Vicentina e perambulava nas ruas da cidade. E gostava de ficar rodeando a casa que outrora foi o seu lar…
A casa permaneceu fechada, ausente de pessoas. E o Cláudio permaneceu também fechado, repleto de lembranças…
E foi ficando quieto, foi ficando calado, foi ficando encorujado, foi ficando perrengue, foi parando de brincar, foi parando de sorrir, não respondia a nenhum tratamento e um dia morreu.
Talvez digam que foi disto ou daquilo (complicações com o diabetes), pois a morte precisa de uma desculpa para acontecer.
Mas a perda dos amados pais lhe pesou muito no coração… Ver a casa que fora seu lar sempre fechada, negando-lhe a vida alegre que outrora vivera ao lado dos pais, também contribuiu bastante para piorar seu estado de saúde!
E eu, que achava que morrer de tristeza só acontecia nos livros, nos contos e nas novelas…
Mas morrer de tristeza é algo que de fato acontece, é a triste realidade…
E o Cláudio, seguramente, morreu foi de tristeza sim!
Então fica aqui registrado minha triste homenagem ao bom menino:
Já vi gente morrendo de morte morrida,
Morrer para sempre é dor toda vida,
Morrer de acidente, acontece e é triste,
Morrer de doença, é triste e sofrida,
Morrer numa briga, uma triste partida,
Morrer na velhice é triste certeza,
Mas é triste duas vezes, morrer de tristeza!
Que Deus o tenha em paz, em um bom lugar.