quarta-feira, 15 de abril de 2015

9º Derradeiras lembranças da Infância

19/11/2013
* SÁBADO DE ALELUIA *

Foi muito bom estar com vocês nessa viagem. Quando passar outra vez aqui, falarei dos tempos de Ginásio: uma segunda fase da vida.
Com esse texto, encerro meus relatos de INFÂNCIA.

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Já falei das travessuras com sapos. Tinham dois destinos: Saraivada de Sal nas costas ou fumar cigarro Paquetá... Se tivesse sorte, ganhava um Arizona. A respiração do sapo é na pele, de modo que não tem por onde expelir fumaça, então vai inchando, inchando... a gente em roda, só observando. De repente, um espírito de porco dá-lhe uma bicuda e “BUUM” lá se vai o sapo pro espaço. Mas não era só isso que acontecia em Guapé. Com certeza nossa entrada pro céu dos animais foi barrada, porque a imaginação infantil daquela época não tinha limites.

Eu disse Sábado de Aleluia? Desculpem, foi engano... Era “semana das aleluias, semana das tanajuras”... AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE, botânico francês, dizia:
__Ou Brasil acaba com as Saúvas, ou as Saúvas acabam com Brasil.
E “Santo Hilário” é logo ali depois da ponte. Então não sei se por vingança ou coincidência, mas toda saúva do mundo mudou-se pro Guapé! Em certa época do ano tais formigas ganham asas e infestam o céu da cidade. Em tempos de Tanajura, só dava molecada nas ruas correndo atrás do famigerado Içá! Espetávamos um palito na “jura” da Tanajura só pra vê-la bater asas e rodopiar, igual bailarina num pé só. Algumas acabavam na chapa do fogão... dizem que assadas e com sal fica igual amendoim torrado. Mas eu juro que nunca provei.

Praticávamos “Caça à Cigarra”: O barulho é infernal, mas de repente ZUPT! Capturávamos e guardávamos na caixa de fósforo. Cigarra com duas estrelas na testa valia pouco. A de três, um pouco mais. Quem possuía uma de cinco não trocava por menos que ½ dúzia de bolas de gude, um absurdo! Cigarra de sete estrelas era lenda, igual “Ilha do Tesouro”, ninguém achava! Uma alegria: amarrar duas patinhas da cigarra na ponta da linha, a outra ponta amarrava no dedo e deixá-la voar. AGORA, A ALEGRIA MAIOR: Correr atrás das meninas com braço esticado e a cigarra na mão! A brincadeira sempre acabava em gritos desesperados, muita risada, um tombo e os joelhos ralados. Relações diplomáticas cortadas, e a gente ficava “de mal”... Belém, belém, pra nunca mais ficar de bem... até a semana que vem!

E os vaga-lumes? Tinha uns bem equipados, com luz na barriga e dois faróis na cabeça! Prendíamos num vidro, apagávamos as luzes e de repente nosso vaga-lumes acendia. Coisa mais linda de se ver! Só faltava dar setas e ligar sirene! Efeitos NEON na camisa? Sem problemas, era fácil arranjar: Esfregava o traseiro do vaga-lumes na roupa e pronto! Lá se vai o bichinho a voar, já com sua lâmpada queimada!

Tinha os besouros... Enormes e com três chifres, pareciam dinossauro do Jurassic Park. Amarrávamos numa caixa de fósforo e cutucávamos para marchar. O objetivo era ver quantas pedras ele aguentava puxar... Fazíamos uma arena e punham-nos a lutar. ”Bizôrro” depois que trava os chifres, ninguém conseguia soltar.
Havia muito terreno vazio. Na rua do Colégio S.Francisco, na rua do Ginásio e rua do Bosque tinha mais mato do que casas. Às vezes a patrola limpava, mas na 1ª chuva se formava quiçaça outra vez. Ali encontrávamos Mamica de Porca, Murici, Maria Pretinha, Milho de Grilo, Gabiroba... e na cerca, o Melão de S.Caetano: cipó de fruto amarelo e sementes vermelhas. Até tatu existia por ali! E às vezes a molecada botava fogo no mato. Ou brincava de guerrinha, fazendo munição com mamona... Se descíamos pra margem da represa, sem propósito nenhum batíamos o dedo numa planta e gritávamos: “Murcha, cadela!”

Quanta saudade! O Eliziário – lembra dele? Hoje faz parte do nosso folclore... Chapéu de palha, simpático com seu eterno sorriso. Voz insegura e tremida, calça de tergal pegando frango, canelinhas finas e os pés sem meia enterrados num velho sapato social. Ele às vezes se detinha em seu caminho a observar brincadeiras de crianças... Também o João, outro moço querido, às vezes se distraía observando de longe a criançada brincar. Talvez os dois se lembrassem de quando eles mesmo foram crianças... Ah! o João era irmão do “Bé” do Clube dos 70. Quando me mudei de Guapé em 1991 já fazia tempos que não o via pelas ruas e somente agora me dou conta disso... Onde está? O que lhe aconteceu? Forte, sua voz era mole e pastosa, seu olhar triste e distante... Difícil esquecer tal semblante!

Nas ruas, até certa idade os meninos e meninas sem distinção brincavam de amarelinha, pique, maria-sai-da-lata, queimada, bete e pula-corda. Na Rua Dr. Joaquim Coelho Filho eu tive crianças de nossa idade como vizinhos. A Lucimara e a Selma do Zé Roque... O Cleiton Goulart da Dnª Maria Aparecida – ele é sobrinho da mulher do Euclides Nascimento. O Zé e a Zélia, filhos do Perciliano... O Edilson do Juca na outra rua. Fomos todos vizinhos. Mas o Zé e a Zélia pouco brincavam na rua. Depois que a mãe do Cleiton faleceu, ele se mudou de lá e foi morar nos fundos do Bar do Nenê, que é tio da “Fatinha”, que estudou comigo no 1º Ano do Grupo. A Lucimara depois de crescida trabalhou no Despachante Barros e depois virou anjinho. O povo do Zé Roque se mudou de vez pra roça. O Edilson virou congueiro, bate o pandeiro mas não quer mais pular corda.

Em frente de casa mudou a família do Zé Rato, que também já morou perto do Fernandinho. Porém ninguém mais brincou nas ruas porque tínhamos crescido. O Zé Rato comprou um FUSCA antes da mudança. Dizem que pintou com broxa de caiá muros e fez o acabamento com pincel de paredes. Do fusca me lembro bem... da inusitada “obra de arte”, não. Mas são CAUSOS do Guapé!

E as brincadeiras com insetos? Certamente não existem mais. As crianças cresceram, o pesticida acabou com as nuvens de aleluias... ALELUIA! Finalmente os insetos tiveram paz! O único INSETO que a meninada de hoje conhece, são os BUG'S = um pequeno defeito em joguinhos de Tablet e Celular... Li na Internet que colaram um “chips” na barata e transformaram o inseto em robô controlado à distância. Teu filho ainda vai ter um!! Foi comprovado que não causa sofrimentos ao inseto (foi testado em quem?)... Portanto, estamos livres da ação dos ativistas, como aquela dos cãezinhos beagles do Instituto Royal... Mas mesmo assim se os ativistas ainda quiserem vir em casa e “resgatar” todas baratas que encontrarem, não vou achar ruim!!

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“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança” – Novo Testamento, Coríntios, 1:11

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Dedico tais memórias infantis aos amigos de infância: os que leem aqui da Terra e os que precisam de binóculos pra ver lá de cima...
E também a todos que eu não conheci, mas que foram crianças em Guapé no tempo que eu também fui. Abraços e Saudades.

* FIM *

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