06/11/2013
''AI!!!QUE SAUDADE ME
DÁ!!!"
GRUPO ESCOLAR Dnª AGOSTINHA FLOR DE MARIA – 1976 a
1979
Ao acordar de manhã, sinto falta do cheiro de café
torrado – daqueles torrados em caçarola preta, no fogão à lenha. Cheirinho que
atravessava a rua, às vezes até quarteirão. Do cantar do galo de manhãzinha e
do repicar dos sinos. Haviam dois sinos: o da Igreja Matriz e do Grupo Escolar.
GRUPO ESCOLAR?? Onde foi parar o material e meu
dever de casa feito à noite? Alguém sabe, alguém viu?
Que saudade! Naquele tempo, criança não tinha noção
de Brega ou Fashion. Uma caixa de Retroz de Linhas Corrente servia de estojo.
Ali cabia tudo: da borracha ao lápis grafite e até lápis de cor – da Faber
Castell. Pra apontar usava lâmina, daquela branca mais barata ou da azul, a
Gillette Blues Blade com um senhor de bigodinho e paletó estampado na caixa.
Cortávamos ao meio pra usar uma banda de cada vez.. Haviam canetinhas Sylvapen
– eram seis no estojo acrílico, a gente comprava na loja do “Tóin Colola” e
pingava álcool pra aumentar a tinta. Uma caixa de lápis de cera... junto com
cadernos e livros, socávamos todo esse material na mochila, daquelas em forma
de tubo com boca fechada por grosso cordão, e atrás uma estampa de time de
futebol. Ou naquela maleta quadrada, de tecido grosso, com fechos tipo “olho de
gato”.
A tira-colo levava merendeira. Dos meninos, parecia
um trenzinho maria-fumaça. Das meninas, formato de casinha. A garrafa com Toddy
ou Ki-suco era a chaminé... Além da garrafinha, cabia um pão com margarina
Astra. O uniforme era camisa branca com botões e gola, um bolso do lado
esquerdo. Para os meninos, um shorts azul-marinho com elástico na cintura e
acabava na altura dos joelhos. Para as meninas, uma saia lisa ou prissada – na
mesma cor azul. Uniformizados, parecíamos soldados de chumbo. Sem esquecer da
"Caixa Escolar", que também fornecia material e ajudava muitos de
nós...
Pela primeira vez amarrei o ki-chute. Bem ao lado
da caixa d'agua do Grupo Escolar. Mamãe sempre fazia isso por mim, mas naquele
dia desamarrou no caminho e eu não podia parar, com medo que a servente
fechasse o portão por ordem de Dnª Olga, de olhar severo. O sino já havia
batido, se eu me atrasasse teria de pular a cerca lá nos fundos do Pátio, na
rua da Cacisa.
Ah, se eu pudesse!! Hoje eu gostaria de entrar na
fila outra vez... eram duas por sala, meninos e meninas, por ordem de tamanho.
Esperávamos Dnª Terezinha Vinhas que puxava a reza – Oração de São Francisco –
a mesma que as professoras em coro com os alunos rezavam dentro da sala, em
dias de tempestade e trovão. E eu me intrigava com sua luva de crochê
azul-claro, em apenas uma das mãos!
Subíamos em ordem pra sala. E até a hora do Recreio
os corredores ficavam desertos, poucos tinham coragem de ir ao banheiro, pois
sabíamos que a “Mulher do Algodão” morava lá dentro!!
No Recreio, as serventes traziam o caldeirão de
sopa até a mesa do Pátio. Em fila os alunos eram servidos. Depois, dirigíamos
para “nossa árvore” - cada turma tinha a sua – onde a professora brincava com a
gente de passa-anel, telefone-sem-fio, seu mestre mandou, etc... Na Cantina, a
Marta Barbosa – irmã da Maria José que era da minha sala, vendia “pão com
molho”, mirabel, doces e Caçula – o refrigerante de abacaxi que adorávamos
furar a tampinha com prego. De repente um menino subia as escadas e batia o sino.
Um perigo! Se Dnª Olga visse, dava “B.O.”, o infrator era levado pra Secretaria
e Dnª Esmeralda tomaria devidas providências. A Secretaria inspirava respeito,
e ficava de frente à “sala do dentista”, de quem todo mundo tinha medo...
Existiam as diferenças entre os alunos, que começavam no Recreio e terminavam com a temida
frase: “__Eu te pego lá fora, depois da aula”.
A turma dos repetentes era mais encrenqueira, mas
haviam muitos calouros briguentos também. Sempre aparecia um patrocinador do
“evento”. Com bico do sapato riscava o chão e dividia o território entre dois
oponentes e a gente fazia roda. No meio, ele levantava a mão dizendo:
__Quem for mais homem ”góspe” aqui na minha mão!
É claro que ele retirava a mão rapidamente e um dos
moleques - o que levava a cusparada na cara - pulava de voadora no peito do menino que lhe cuspiu.
Havia a turma do “deixa disso” e do “vai pra cima”. Por via das dúvidas, era
melhor ser amigo DE TODO MUNDO, pra não apanhar de ninguém!
No meu tempo, o filho do Pedro – aquele ajudante do
“seo” Geraldo “Xexéu”, lá da Balsa do Araúna – na hora do Recreio foi brincar
perto do monte de gravetos e folhas secas que pegaram fogo, e ele se queimou
bastante.
Depois do Recreio, dava uma preguiça!... Então a
gente quebrava a ponta do lápis propositalmente, pra levantar da carteira e
caminhar até a lixeira detrás da porta e apontar outra vez.
Durante o ano, tínhamos Gincana no Pátio, onde
fazíamos Educação Física com a Ié-ié. Havia Dinâmica de Grupo com leitura de
livros, interpretação de texto e apresentação na classe. Trabalhos em equipe;
às vezes na casa de um colega, às vezes na Biblioteca Municipal. E era sem
computador, sem impressora, nem Internet... A mãe do Zé Ronei tinha letra
bonita e ajudava a gente.
Gostávamos da Excursão: Fazíamos piquenique no
Campo do Alazão ou no Estádio Mário Tibúrcio. Cada um levava seu lanche, depois
brincávamos de pique, queimada, polícia-e-ladrão e claro, de futebol...
A professora responsável pela turma era a que
ficava mais tempo conosco e fazia chamada... Porém tínhamos outras disciplinas.
Religião por exemplo, era com a Profª Francisca – que morava na Cidade Nova
perto da casa da Diola, e virou anjo quando teve problemas de apendicite e
complicou... A Nilza Dutra também virou anjo me deu aulas de Religião, mas foi
só no Ginásio. No Grupo, sob meu pedido, às vezes era levado pro almoxarifado
durante a aula. Enquanto meus colegas aprendiam religião, eu ficava olhando e
revirando os quadros e cartazes “dependurados” na pequena sala... E eram
quadros que representavam “A Paixão e os Mistérios Dolorosos”... material da
Aula de Religião!
Quem dava aulas no Pré era “Tia Cleide”, esposa do
Dr.Lauro Correa. Não estudei com ela porque fui matriculado já com 7 anos,
direto no primeiro ano.
Minhas professoras foram:
Profª Aparecida Dutra no
1º Ano, que me alfabetizou no Caminho Suave e no texto dos cabritinhos “Bitú,
Zecão e Fofinho”.
Profª Maria Helena no 2º Ano, que me ensinou
Comunicação e Expressão e Matemática com questões resolvidas na frente de uns
quadradinhos desenhados no começo das linhas... Depois se casou e mudou pra São
Paulo.
Profª Luzia Laudares teve paciência comigo no 3º
Ano. Com ela, peguei gosto de fazer redação.
O 4º Ano estudei com a Profª Emilce Amaral. Com ela
aprendi melhor sobre História do Brasil e aperfeiçoei meus cálculos de
matemática. Estudei no Grupo de 1976 até 1979. Não tomei Bomba.
A despedida se deu com festa, amigo-oculto e
deliciosa salada de frutas a qual todos nós contribuímos. Eu levei laranjas. A
Nilce, que já virou anjinho levou uma lata de creme de leite. O Agnaldo levou
quatro bananas. Sua mãe tinha mandado meia-dúzia, mas ele comeu duas no
caminho... A Silvia, que também virou anjinho levou abacates. E a Ângela do
Wilmar – levou só moranguinhos temporões que nasciam no jardim da casa dela...
Houve mais frutas, claro. É que não me lembro agora!
...E se me dão licença, eu vou pra escola – já
bateu o sino... antes que fechem o portão!
Mas deixo um dever de casa a vocês: MENCIONEM NOS
COMENTÁRIOS O NOME DE SUAS PROFESSORAS DO PRIMÁRIO. Mesmo aquelas que passaram
em vossas vidas por um breve período. A Neuzinha por exemplo, filha do Juquinha
e morava na Rua 3 de Fevereiro – chamavam-na de Rainha. Era branca como leite,
muito jovem e bonita – ela me deu aulas no Grupo por uns dias apenas. Porém,
também nunca me esqueci.
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