domingo, 17 de maio de 2015

16º Jiló

13/05/2015
Ângelo e Gilmar – "Jilú" e "Jiló".

Foi na década de 80 que conheci a turma do Dorvalino Dutra:
Hermes, Ângelo e Gilmar. Havia também na turma do Dorvalino uma ou duas irmãs deles loirinhas, muito bonitas. E quem sabe um tubé de irmãos que não conheci todos, conheci apenas os três que mencionei os nomes, pois estudaram comigo no Ginásio. Gostavam muito de futebol. Falavam de futebol. Viviam o futebol no recreio e dentro da sala de aulas também.

Porém, eu nunca me importei com futebol. Era um esporte que eu praticava apenas nas aulas de Educação Física, por extrema obrigação porque sabia que se não participasse, o Willian marcaria faltas no Diário de Classe. E faltas na aula de Educação Física faziam com que o aluno entrasse “de recuperação” em todas as outras matérias no final do ano!
Mas era um esporte e assunto favorito de meus coleguinhas de escola. E de tanto ouvir falar nisso, acabei me interessando até pela Copa do Mundo que se deu em 1982, quando estava eu na 7ª Série – foi assim que aprendi o significado das letras “CCCP” estampadas de branco na camisa vermelha da União Soviética: “Camaradas, Cuidado Com Pelé”, e comecei prestar mais atenção aos jogos, como aquele jogo na segunda-feira (14/06/82) entre Brasil e União Soviética, com nossa vitória por 2x1... ou o empate da União Soviética com Escócia, que aconteceu uma semana depois, numa terça-feira à tarde – cujo resultado ouvi no radinho da Diola sintonizado no jogo, dentro da Sala do Mimeógrafo onde fui buscar as folhas de Prova de Geografia a pedido da Professora Lara... Resultado que nos causou alívio porque assim o Brasil se classificava em 1º lugar e seria “cabeça de chave” na próxima fase!

Nunca fomos aquele tipo de amigos que frequentava a casa um do outro, mas na escola sempre gostei de conversar e sentar perto deles, pois a irreverência do Jilú e a displicência do Jiló me divertiam bastante.
Éramos cúmplices de "cola" nas provas e testes, eu e o Jiló.
Por detrás daquela aparência desanimada e olhar sonolento, dava-se a impressão que Gilmar estava sempre com preguiça...
Mas não era bem assim! Gilmar foi um cara inteligentíssimo. Guardava detrás daquela aparência um senso bem crítico – diria até irônico, e de repente se saía com reações e frases brilhantes conforme cada situação que se apresentasse dentro da sala de aulas: Fosse um dever de casa que não trouxe pronto, fosse um teste do qual não estudou, fosse uma questão não copiada do quadro-negro... No fim, sempre se saía muito bem e suas notas no final do bimestre eram boas.

Sou alguém apartidário (alguém sem partido político, um alguém que vota em Pessoas, não em Partidos), mas a pedido do meu amigo Gilmar, tempos depois o ajudei a desenhar uma enorme Estrela do PT naquele muro que ficava entre a casa do Dr. Lauro Correa e a Loja do Vitor Mascate, por ocasião da campanha política.
A loja me parece que hoje tem outro nome. Acho que é JC Variedades...
O Lauro Correa há muitos anos que se foi – e o muro não sei se ainda está lá.
A Estrela, com certeza já sumiu há muito tempo.

E hoje, para minha grande surpresa me vejo diante de uma foto antiga, de nossos jogadores de futebol do Guapé – o ano da foto foi 1989. Foi numa publicação do Edilson do Juca da Maruca, que postou no Facebook...
E lá no cantinho direito da foto, agachado estava o Gilmar!
Então bateu uma grande saudade da escola, dos meus amigos e colegas do Ginásio, da Copa do Mundo de 1982 (que perdemos para a Itália e que me deixou desconsolado, tirando de mim a vontade de assistir outras Copas... Por isso não me importei tanto com nosso fiasco de 7x1 para Alemanha na Copa de 2014!) e bateu a saudades da adolescência, de quando sonhávamos em tirar o diploma, prosseguir os estudos, seguir alguma carreira e ser alguém na vida!

O Ângelo segundo informações que me chegam, trabalha até hoje numa escola. O Wadilson também é professor – de História, mas seria um bom geógrafo, podem crer – pelo tanto que esse homem viaja! O Divininho irmão do Gaspar dá seu ar de graças como locutor de rádio e faz trabalhos pedagógicos com as crianças... E por aí vai, meus colegas e amigos do Ginásio...
Mas o Gilmar (ou Jiló – como era apelidado, para combinar com o apelido do Ângelo – o Jilú)... Bom, o Gilmar era de compleição franzina. Magérrimo, era um graveto, como eu também era.
Eu não gostava de jogar futebol, mas ele gostava!
Seu olhar mortiço lhe dava um ar ainda mais cansado quando jogava bola. Me lembro perfeitamente de suas caretas, do seu jeito de colocar as mãos na cintura e se curvar pra frente logo após uma carreira atrás da bola, cansado – talvez com dor nos rins. Mas o futebol era sua vida! Seria um grande jogador no futuro? Quem sabe? Eu não sei...
Mas o esporte que era sua vida, um dia lhe arrancou dos Campos de Futebol para coloca-lo nos Campos da Saudade... E meu amigo Gilmar hoje é apenas lembranças e uma fotografia!
Jiló!... Esse apelido do amigo Gilmar é o nome de uma fruta, um vegetal que se cozinha, refoga ou faz saladas. Por ironia do destino, consumir jiló faz bem pro coração, mas o Gilmar morreu de enfarto!
Não acho amargo o jiló. Amargo mesmo é o sabor de perder um amigo, arrancado dessa vida tão de repente, em meio a um jogo de futebol, indo embora tragicamente sem ter tempo de se despedir da família e de ninguém!
Então ao ver a foto, resolvi escrever estas palavras sobre ele. É uma homenagem ao meu amigo e colega de Ginásio, Gilmar Dutra.
E que Deus o tenha, amigo!

Marcelo Lagoa
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Publicado no Bão de Prosa em 13/05/15.
Soninha escreveu:
Marcelo, na igreja quando foi homenageado uma música foi tocada.
Aquela do Garrincha.
Uma estrofe:
"Hoje outros craques repetem as suas jogadas
Ainda na rede balança seu último gol
Mas pela vida impedido parou
E para sempre o jogo acabou
Suas pernas cansadas correram pro nada
E o time do tempo ganhou ''